Paraíso Perdido
Aqui, a vida é selvagem, simples e bem desafiadora. O choque de realidade explodiu minha mente e me deixou em perfeita confusão sobre o que significa verdadeiramente viver e “ser humano”.
Muitas vezes me pego perguntando se tenho vivido da maneira certa durante toda a minha vida. Sinto-me mais feliz aqui do que nunca, com menos, com o básico, com o essencial. Às vezes, também sinto uma espécie de culpa quando vejo essas crianças caminhando quilômetros para ter acesso a água ou para chegar à escola e mulheres carregando baldes pesados sobre a cabeça por quilômetros apenas para lavar roupas.
Pra ter uma ideia da simplicidade, a maioria das pessoas aqui ainda se banham completamente peladas em fontes ou rios.
Uma vez que vejo tanta diferença, também questiono cada momento em que reclamei da minha vida, momentos em que estava insatisfeita mesmo tendo tudo que precisava para viver ou “sobreviver”, ou momentos em que reclamei por ter que lavar roupas novamente ou ir ao mercado quando me sentia 'cansada.'
Aqui, simplesmente se você não pesca, não come, se você não planta, não come. Se você não caminha quilômetros pra chegas à fonte de água, não tem água, não tem banho ou higiene básica.
É uma forma completamente diferente de sobrevivência. Se quiser comer frango, tem que comprar vivo, porque em muitas partes não existem mercados, restaurantes ou transporte público.
Apesar das dificuldades diárias e das lutas para sobreviver, as pessoas aqui quase sempre estão com grandes sorrisos no rosto, brincando umas com as outras e provavelmente não há espaço para muita ansiedade ou depressão aqui. Simplesmente você precisa continuar em movimento, ou não sobreviverá.
Aqui não existem famílias separadas, é tudo sobre a comunidade se ajudando, é algo que poderíamos aprender. E acredito que essa forte conexão uns com os outros, com a simplicidade, com as estações e com a natureza, de certa forma deixam as pessoas mais felizes e satisfeitas.
Embora seja difícil testemunhar algumas cenas, que poderíamos considerar “crueldade”, há muitos outros momentos que me fazem chorar de admiração por quão lindo e incrível esse lugar é.
Esse paraíso perdido, além de suas ondas perfeitas e solitárias, tem sido uma profunda escola de vida para mim, embora bem desafiadora.
Esse lugar é definitivamente para aqueles corajosos o suficiente para deixar para trás o julgamento e o conforto de suas respectivas bolhas sociais, e que estão dispostos a abrir seus corações para mergulhar nesta cultura tão diferente.